quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O CAMPEONATO PAULISTA E SUA IMENSIDÃO DE CONTROVÉRSIAS


















Ao longo da história, o Campeonato Paulista sofreu diversas alterações tanto em sua fórmula de disputa quanto em seu regulamento. A edição do Paulistão que começa neste final de semana é apenas a segunda em que há a divisão de quatro grupos com cinco times, na qual os jogos da primeira fase só acontecem entre equipes de grupos diferentes. Apenas no mata-mata um duelo entre times do mesmo grupo torna-se possível - no caso, obrigatório.

Esta recente mudança foi uma alternativa encontrada pela Federação Paulista de Futebol para encurtar o período de seu estadual. Se até dois anos atrás, havia 23 datas, agora são 19. No entanto, esta medida foi um tanto quanto controversa e não teve uma aprovação unânime por parte do público.

Ouço muitas opiniões acerca deste formato e nem todas são favoráveis. Uns apoiam este encurtamento do torneio, outros desdenham da nova fórmula e há quem faça essas duas coisas ao mesmo tempo. A maioria ainda clama pela redução de times para haver menos jogos ruins e que muitas vezes são inúteis.

A verdade é que parece que nunca vai acabar a polêmica em torno da questão do tamanho e do status que os estaduais devem assumir.

Deixando a opinião pública de lado, o fato é que esta recém-adotada era de disputa produziu a possibilidade de algumas situações exóticas dentro do Campeonato Paulista. Se todos os dois melhores de cada grupo têm vaga garantida na próxima fase, um critério parecido não se aplica aos rebaixados, que são definidos por meio de uma tabela geral.

Dito isso, seria possível, por exemplo, que uma equipe perdesse todos os jogos e se classificasse, no caso de todos os demais da mesma chave também perderem todos os seus jogos. Só que nesse caso específico, um dos times classificados deveria necessariamente ser rebaixado ao mesmo tempo. Daí o impasse. Portanto, a solução encontrada pela FPF é ignorar a classificação e manter o rebaixamento, dando assim a vaga ao mata-mata ao melhor terceiro colocado entre todos os grupos.

Caso você tenha entedido a situação, essa é a mais esdrúxula problemática do formato atual do Paulistão. Se não entendeu, não perca seu tempo para tenter entender, não. Continue lendo que é melhor.

No ano passado, outros problemas menos excêntricos, mas também pitorescos, vieram à tona. O Penapolense se tornou a primeira equipe em 113 anos de história de Campeonato Paulista a se classificar para a segunda fase tendo perdido mais jogos do que ganhado. Foram 8 derrotas e apenas 6 triunfos, além de um empate. O mais engraçado é que o time de Penápolis ainda conseguiu chegar até a semi-final.

Outra curiosidade é que a pontuação total dos times do grupo do São Paulo foi de 85 pontos, já a do grupo do Corinthians foi de 122 pontos. Como líder de seu grupo, o Tricolor nem teria conseguido ficar na segunda posição do grupo do alvinegro, que teve Ituano e Botafogo classificados. É do jogo.

Promovendo um rápido balanço, eu não acho das piores a ideia deste sistema de disputa, mas ele apresenta falhas pontuais que acabam comprometendo e banalizando o campeonato como um todo.















Assim como as mudanças de formato e de regulamento, as falhas na elaboração das tabelas do Paulistão também são corriqueiras. Elas podem passar despercebidas, mas é só esmiuçar com um pouco de atenção que vários erros são detectados ano a ano. Desta vez, a maior lambança rodeia o Palmeiras, que jogará seus quatro primeiros jogos dentro de casa.

A tabela já previa três partidas consecutivas para o Verdão no Allianz Parque, contra Ponte Preta, Corinthians e Rio Claro, entre a 2ª e a 4ª rodada.

Porém, a aberração só aumentou quando foi anunciado que o Grêmio Osasco Audax teria seu jogo de estreia diante do próprio Palmeiras justamente na nova arena alviverde. Mesmo sendo o mandante. Uma nota oficial no site do Audax explicou que não se trata exatamente de uma inversão de mando de campo. Trata-se de um acordo para tomar posse da renda visando o pagamento de uma taxa à FPF (que o permitirá jogar na cidade de Osasco pelo restante do campeonato).

Resumo da ópera: o time menor pensa no faturamento e abre mão de uma condição mais propícia para vencer seu jogo contra o time maior. Nas entrelinhas, é uma espécie de inversão de mando, sim. E o pior de tudo neste caso é que o dinheiro irá para os cofres da Federação.

No fundo, a mentalidade e a postura do Audax são compreensíveis, pois são sustentadas mais por necessidade do que por desejo. Quem vende mando de campo ou faz coisas do gênero, não está fazendo nada de ilegal ou proibido. Embora eu depreze esse hábito aqui no país.

A grande questão é que este tipo de coisa é um reflexo do futebol arruinado que temos. Condenáveis são as posturas das federações, que ao invés de tentarem soluções para coibir e extirpar coisas assim, continuam dando aval e permitindo que isso aconteça. E a CBF não fica para trás, não. No Campeonato Brasileiro, hora ou outra estas anomalias dão as caras.

Cabe agora ao Palmeiras apenas a tarefa de se aproveitar de todo esse arsenal de falhas.

E os benefícios não param por aí. Para alegria dos palmeirenses, dos dez primeiros compromissos neste Paulistão, sete acontecerão na Turiassú. E não é a primeira vez que a tabela escorrega dessa maneira.

O Corinthians, em 2009, e o São Paulo, em 2010, jogaram apenas três vezes fora da cidade de São Paulo nas dez primeiras rodadas. Nestas outras duas vezes não houve interferência de inversões de mando ou coisas do tipo. A Federação Paulista conseguiu a proeza de confeccionar uma tabela que permitia isso.

Este acúmulo de jogos em casa que a tabela às vezes oferece é um prato cheio para os grandes largarem na frente e devorarem as equipes do interior, as quais já são financeiramente inferiores. O Ituano é o atual campeão paulista, mas é uma exceção, um ponto fora da curva.

Para finalizar, em tabelas anteriores, lembro-me de serem incontáveis os exemplos de times aleatórios com sequências de três jogos seguidos em casa. Um privilégio que nem todos os 20 times acabam tendo para subir na tabela ou reagir contra a degola. 

Este é o Paulistão! Ou o Paulistinha, como Juca Kfouri costuma chamá-lo.

E ele recomeça neste sábado.

Será que teremos surpresas desta vez? 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

PÉROLA DO GRUNGE DE SEATTLE, MAD SEASON NÃO MORREU

Barret Martin, Layne Staley, John Baker Sounders e
Mike McCready: da esquerda para a direita



















Na década de 90, a cidade de Seattle entrou para nunca mais sair do mapa do rock ao servir de berço para o movimento grunge, uma febre que representou um marco não só musical como também de estilo. Garagens e porões serviram como motores de arranque, já que eram onde os jovens mais se reuniam para fazerem música e deixarem de lado o tédio de se viver em uma cidade chuvosa e monótona como era Seattle. Aos poucos, a música grunge foi ganhando corpo e a mistura de camisas xadrez de flanela com calças rasgadas começou a ditar a moda da época.

Exceções feitas ao Stone Temple Pilots, de San Diego, e o Smashing Pumpkins, de Chicago, a esmagadora maioria das bandas que escreveu o nome do grunge nasceu e cresceu nas garagens de Seattle: Soundgarden, Green River, Nirvana, Pearl Jam, Alice In Chains (embora o guitarrista da banda, Jerry Cantrell, nunca tenha gostado do termo grunge), Mudhoney, Mother Love Bone, Screaming Trees, e por aí vai.
Mas talvez nenhuma destas tenha sua origem ligada a uma história mais curiosa e intrínseca que a do Mad Season.

A semente do Mad Season foi germinada em 1994, em uma clínica de reabilitação. Sim, isso mesmo. Foi em uma clínica de reabilitação de Minnesotta que o guitarrista do Pearl Jam, Mike McCready, lutava contra drogas e bebidas e conheceu o baixista John Baker Sounders, que tocava em uma banda menos conhecida chamada The Walkabouts e também tentava fugir dos vícios. Os dois viraram amigos e tiveram a ideia de usar a música como meio de combate a suas perversas dependências. O desejo dos dois era voltar para Seattle e darem vida a um projeto paralelo: em outras palavras, uma banda nova.

Também sofrendo do mal das drogas, o vocalista Layne Staley estava meio afastado do Alice In Chains e foi convidado por McCready para ser a voz do projeto. O baterista Barrett Martin, do Screaming Trees, também foi contatado e chamado para fechar a formação desta superbanda que ainda nem sequer tinha nome.

Inicialmente como The Gacy Bunch, o grupo fez sua primeira apresentação em outubro de 94, no Crocodilo Cafe, em Seattle. Empolgados, destaque e prestígio eram questão de tempo.
Foi somente perto da gravação do primeiro e único disco “Above” que veio a mudança de nome para Mad Season - expressão inglesa para a época do ano em que os alucinógenos cogumelos de plebiscina estão em plena floração.

“Above” foi lançado em 14 de março de 1995 e reuniu canções depressivas, porém deliciosas, dentre elas os singles “River of Deceit” e “I Don’t Know Anything”. O Mad Season se consolidava como um praticante do grunge com traços de blues. Nas músicas “I’m Above” e “Long Gone Day”, houve a participação do saxofonista Nalgas sin Carne e de Mark Lanegan, vocalista do mesmo Screaming Trees de Barret Martin.

Capa do disco "Above"












Se você ouvir grande parte das músicas do disco (incluindo esta abaixo), com certeza vai achar que se trata de uma relíquia perdida do Alice In Chains, não só pela voz de Layne Staley, mas pelo instrumental e pelas letras com alusão à solidão, amor, vícios e suicídio.
















Ouça “River of Deceit” – minha preferida do Mad Season: não é á toa que fez sucesso

Musicalmente, o Mad Season deu bastante certo enquanto durou. Mas se a intenção dos integrantes era se afastarem das drogas, deu tudo errado, pelo menos para John Baker Sounders e Layne Staley. O primeiro morreu em janeiro de 1999, vítima de overdose de heroína, e o outro veio a falecer um pouco mais tarde, em abril de 2002, vítima de overdose de speedball - mistura de heroína ou morfina com cocaína ou metanfetamina.
A produção do segundo álbum da banda, que já tinha até nome, “Disinformation”, ia por água abaixo.

Entretanto, engana-se quem pensou que era o fim. Remanescentes do Mad Season, Mike McCready e Barret Martin voltaram a se reunir recentemente e, com ajuda de Mark Lanegan, lançaram uma reedição de luxo do disco “Above”, no dia 2 de abril de 2013. Através de dois CDs e um DVD, eles desenterraram três faixas inéditas de “Disinformation” que já haviam sido produzidas, além das músicas já conhecidas pelo público. Dezoito dias depois, uma edição em vinil duplo foi lançada com o mesmo conteúdo.

Para os fãs do grunge, as boas notícias não pararam por aí. No fim do ano passado foi anunciado que o Mad Season, mesmo desfalcado de Layne Staley e de John Baker Sounders, voltaria aos palcos em 2015, depois de 20 anos. E, de fato, não se tratava de nenhum boato. O retorno, pasmem, acontecerá já nesta sexta-feira (30 de janeiro) e será a atração principal do festival anual Sonic Evolution, no Benaroya Hall, famoso salão no centro de Seattle. Para suprir os desfalques, Chris Cornell (Soundgarden e Audioslave) assumirá o vocal e Duff McKagan (Guns N’ Roses e Velvet Revolver) o baixo. A Orquestra Sinfônica de Seattle também marcará presença.

Ainda não se sabe se existem mais planos ou pretensões para o futuro. Tomara que sim. Mas para os órfãos de Mad Season, já está aí um grande banquete para matarem a saudade dos velhos tempos.


Pearl Jam
Depois de dois anos, o Pearl Jam, outro expoente do grunge, tem sua volta ao Brasil agendada para o final do ano, provavelmente para novembro. Os shows deverão acontecer em quatro cidades, sendo duas delas Rio de Janeiro e São Paulo, como sempre. Na capital paulista, Morumbi ou Allianz Parque serão os prováveis destinos.
Eddie Vedder veio ao país em maio do ano passado, mas para shows solo: apenas na companhia de sua guitarra, seu violão e seu ukulele. Mas agora virá a turma toda - Mike McCready inclusive - para a turnê do recém-lançado disco Lightning Bolt. 

BEM-VINDOS AO BLOG!

Senhoras e senhores, apresento-lhes o Blog Rock N' Gol!

Finalmente saindo do forno neste começo de 2015, este espaço tem como objetivo principal tratar dos mais diversos assuntos e questões que digam respeito ao mundo do esporte e da música. Como o título do blog entrega, o enfoque será no futebol e no Rock n' roll - duas das invenções humanas pelas quais tenho mais paixão e apreço.

Dependendo da ocasião e do contexto, outros esportes e outros estilos musicais também terão espaço. E como não haverá restrições, pode ser que de repente surjam também textos aleatórios sobre outros conteúdos. Portanto, peço que não estranhem se aparecerem temas como cinema, política e afins. Estamos a serviço do mundo.

Este blog estará de portas abertas a colaboradores, ideias e sugestões. As postagens por aqui não seguirão um padrão, um modelo nem uma rotina, isto porque tudo vai depender de disponibilidade e tempo. Mas posso garantir de tudo: vídeos, imagens, charges, análises, opiniões, informações, curiosidades, notícias, artigos, memórias e principalmente histórias. Afinal, em se tratando de futebol e rock, o que não faltam são boas e deliciosas histórias.

Espero que gostem! Valeu!

Segue mais abaixo meu primeiro texto.