terça-feira, 27 de janeiro de 2015

PÉROLA DO GRUNGE DE SEATTLE, MAD SEASON NÃO MORREU

Barret Martin, Layne Staley, John Baker Sounders e
Mike McCready: da esquerda para a direita



















Na década de 90, a cidade de Seattle entrou para nunca mais sair do mapa do rock ao servir de berço para o movimento grunge, uma febre que representou um marco não só musical como também de estilo. Garagens e porões serviram como motores de arranque, já que eram onde os jovens mais se reuniam para fazerem música e deixarem de lado o tédio de se viver em uma cidade chuvosa e monótona como era Seattle. Aos poucos, a música grunge foi ganhando corpo e a mistura de camisas xadrez de flanela com calças rasgadas começou a ditar a moda da época.

Exceções feitas ao Stone Temple Pilots, de San Diego, e o Smashing Pumpkins, de Chicago, a esmagadora maioria das bandas que escreveu o nome do grunge nasceu e cresceu nas garagens de Seattle: Soundgarden, Green River, Nirvana, Pearl Jam, Alice In Chains (embora o guitarrista da banda, Jerry Cantrell, nunca tenha gostado do termo grunge), Mudhoney, Mother Love Bone, Screaming Trees, e por aí vai.
Mas talvez nenhuma destas tenha sua origem ligada a uma história mais curiosa e intrínseca que a do Mad Season.

A semente do Mad Season foi germinada em 1994, em uma clínica de reabilitação. Sim, isso mesmo. Foi em uma clínica de reabilitação de Minnesotta que o guitarrista do Pearl Jam, Mike McCready, lutava contra drogas e bebidas e conheceu o baixista John Baker Sounders, que tocava em uma banda menos conhecida chamada The Walkabouts e também tentava fugir dos vícios. Os dois viraram amigos e tiveram a ideia de usar a música como meio de combate a suas perversas dependências. O desejo dos dois era voltar para Seattle e darem vida a um projeto paralelo: em outras palavras, uma banda nova.

Também sofrendo do mal das drogas, o vocalista Layne Staley estava meio afastado do Alice In Chains e foi convidado por McCready para ser a voz do projeto. O baterista Barrett Martin, do Screaming Trees, também foi contatado e chamado para fechar a formação desta superbanda que ainda nem sequer tinha nome.

Inicialmente como The Gacy Bunch, o grupo fez sua primeira apresentação em outubro de 94, no Crocodilo Cafe, em Seattle. Empolgados, destaque e prestígio eram questão de tempo.
Foi somente perto da gravação do primeiro e único disco “Above” que veio a mudança de nome para Mad Season - expressão inglesa para a época do ano em que os alucinógenos cogumelos de plebiscina estão em plena floração.

“Above” foi lançado em 14 de março de 1995 e reuniu canções depressivas, porém deliciosas, dentre elas os singles “River of Deceit” e “I Don’t Know Anything”. O Mad Season se consolidava como um praticante do grunge com traços de blues. Nas músicas “I’m Above” e “Long Gone Day”, houve a participação do saxofonista Nalgas sin Carne e de Mark Lanegan, vocalista do mesmo Screaming Trees de Barret Martin.

Capa do disco "Above"












Se você ouvir grande parte das músicas do disco (incluindo esta abaixo), com certeza vai achar que se trata de uma relíquia perdida do Alice In Chains, não só pela voz de Layne Staley, mas pelo instrumental e pelas letras com alusão à solidão, amor, vícios e suicídio.
















Ouça “River of Deceit” – minha preferida do Mad Season: não é á toa que fez sucesso

Musicalmente, o Mad Season deu bastante certo enquanto durou. Mas se a intenção dos integrantes era se afastarem das drogas, deu tudo errado, pelo menos para John Baker Sounders e Layne Staley. O primeiro morreu em janeiro de 1999, vítima de overdose de heroína, e o outro veio a falecer um pouco mais tarde, em abril de 2002, vítima de overdose de speedball - mistura de heroína ou morfina com cocaína ou metanfetamina.
A produção do segundo álbum da banda, que já tinha até nome, “Disinformation”, ia por água abaixo.

Entretanto, engana-se quem pensou que era o fim. Remanescentes do Mad Season, Mike McCready e Barret Martin voltaram a se reunir recentemente e, com ajuda de Mark Lanegan, lançaram uma reedição de luxo do disco “Above”, no dia 2 de abril de 2013. Através de dois CDs e um DVD, eles desenterraram três faixas inéditas de “Disinformation” que já haviam sido produzidas, além das músicas já conhecidas pelo público. Dezoito dias depois, uma edição em vinil duplo foi lançada com o mesmo conteúdo.

Para os fãs do grunge, as boas notícias não pararam por aí. No fim do ano passado foi anunciado que o Mad Season, mesmo desfalcado de Layne Staley e de John Baker Sounders, voltaria aos palcos em 2015, depois de 20 anos. E, de fato, não se tratava de nenhum boato. O retorno, pasmem, acontecerá já nesta sexta-feira (30 de janeiro) e será a atração principal do festival anual Sonic Evolution, no Benaroya Hall, famoso salão no centro de Seattle. Para suprir os desfalques, Chris Cornell (Soundgarden e Audioslave) assumirá o vocal e Duff McKagan (Guns N’ Roses e Velvet Revolver) o baixo. A Orquestra Sinfônica de Seattle também marcará presença.

Ainda não se sabe se existem mais planos ou pretensões para o futuro. Tomara que sim. Mas para os órfãos de Mad Season, já está aí um grande banquete para matarem a saudade dos velhos tempos.


Pearl Jam
Depois de dois anos, o Pearl Jam, outro expoente do grunge, tem sua volta ao Brasil agendada para o final do ano, provavelmente para novembro. Os shows deverão acontecer em quatro cidades, sendo duas delas Rio de Janeiro e São Paulo, como sempre. Na capital paulista, Morumbi ou Allianz Parque serão os prováveis destinos.
Eddie Vedder veio ao país em maio do ano passado, mas para shows solo: apenas na companhia de sua guitarra, seu violão e seu ukulele. Mas agora virá a turma toda - Mike McCready inclusive - para a turnê do recém-lançado disco Lightning Bolt. 

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