domingo, 15 de fevereiro de 2015

QUANDO O FUTEBOL VIRA UM JOGO DE AZAR


O maior destaque da Copa Africana de Nações 2015, encerrada no domingo passado, foi, claro, o título da Costa do Marfim - campeã continental pela segunda vez na história. No entanto, fora das quatro linhas, o principal destaque fica por conta de um exótico sorteio que se fez necessário após o término da primeira fase da competição:

Pela última rodada do Grupo D, Guiné e Mali faziam um confronto direto valendo passagem às quartas-de-final. Como as duas seleções chegavam ao duelo com campanhas idênticas, qualquer empate faria com que persistisse a igualdade absoluta na tabela. Dito e feito. Ao final do jogo, o placar apontava 1 a 1. O Grupo D ficava assim: 


Guiné e Mali idênticas em pontos, vitórias, empates, derrotas,
gols marcados, gols sofridos, saldo de gols e no confronto direto












Obs: Na última rodada, a Costa do Marfim venceu Camarões por 1 a 0. Repare que se este jogo também tivesse terminado empatado por 1 a 1, teria havido um absoluto quádruplo empate entre todos os times grupo. Foi quase!

Por bom-senso, Guiné e Mali poderiam muito bem ter ficado em campo para uma prorrogação ou uma disputa por pênaltis. No entanto, o regulamento foi seguido à risca. No dia seguinte, a Confederação Africana de Futebol teve de providenciar um sorteio para a definição de quem seria o adversário de Gana no mata-mata. Duas bolinhas, 50% de chance para cada uma. E o destino quis que a bolinha de Guiné fosse a sorteada.

 29/01/2015: bolinhas prestes a serem sorteadas pelos engravatados da CAF.
A sorte sorriu para Guiné, que depois acabaria
 eliminada por Gana 
nas quartas















Como o futebol é feito de histórias, separei outros 7 casos em que houve sorteios semelhantes a este que envolveu Guiné e Mali. 

O curioso é que nem sempre retirar bolinhas de um pote foi a solução encontrada. Você vai ver que papeizinhos, jogos-extra e até moedas já foram recursos usados como critério de desempate. Sim, até o famoso ‘cara ou coroa’ - que normalmente decide o direito de opção por campo ou bola - já definiu o rumo de alguns campeonatos. E não eram quaisquer campeonatos, não!

1-ELIMINATÓRIAS DA COPA DO MUNDO DA SUÍÇA: TURQUIA X ESPANHA - 1954
Turquia e Espanha brigavam por uma vaga na Copa do Mundo de 1954 e fizeram duas partidas para a definição, ida e volta. Em solo espanhol, vitória dos donos da casa por 4 a 1. Em território turco, 1 a 0 para a Turquia.

Em tese, a Espanha deveria ter ido à Copa, mas naquela época não se usava a diferença de gols como critério de desempate. Por isso, houve a necessidade de um jogo-extra, na Itália, no Estádio Olímpico de Roma (campo neutro). O problema é que esta partida terminou empatada por 2 a 2.

Como ainda não existia prorrogação ou disputa por pênaltis, mostrava-se necessária a realização de uma quarta partida-desempate. Faltavam três meses para Mundial e ainda havia tempo para isso. Porém, os turcos se recusaram e se apoiaram em uma brecha do regulamento da UEFA, que decretava a realização de um sorteio.

A peculiaridade da história vem agora. O sorteio aconteceu pouquíssimo tempo depois do encerramento da partida e de forma improvisada. Tanto é que coube a um garoto de 14 anos chamado Luigi Franco Gemma, filho de um homem que trabalhava no estádio. Isso mesmo! Vendaram os olhos do pequeno italiano e pediram para que ele retirasse um papelzinho de um pote. E ele tirou aquele em que o nome da Turquia aparecia escrito.

Pois é, e assim foi definido quem iria à Suíça para a disputa daquela Copa. A Espanha despreza Luigi até hoje! 

Luigi Franco Gemma: de olhos vendados e cercado por cartolas europeus.
Das mãos do garoto saiu a vaga da Turquia na Copa do Mundo de
1954, na Suíça


















2- SULAMERICANO SUB-19: ARGENTINA X COLÔMBIA / PARAGUAI - 1967
O Campeonato Sulamericano Sub-19 de 1967 foi um dos torneios mais excêntricos da história do futebol. Realizado no Paraguai, a Argentina se sagrou campeã, mas os maiores méritos podem ser creditados à sorte. Na primeira fase, a seleção argentina terminou empatada com a Colômbia na segunda colocação do grupo A. Nenhum critério de desempate desempatava a situação.

Igualdade entre Argentina e Colômbia resolvida
 por uma moeda











Para a definição de quem seria o classificado, foi necessária a realização de uma partida-extra, a qual acabaria empatada: 2 a 2. A CONMEBOL, então, autorizou que uma moeda decidisse de uma vez por todas quem seguiria à próxima fase. Exatamente! Foi o famoso 'cara ou coroa' quem definiu que os argentinos prosseguiriam na competição. 

E a sorte dos Hermanos estava longe de parar por aí. Na grande final, em Assunção, Paraguai e Argentina se reencontravam no torneio. Na primeira fase, os donos da casa haviam goleado por 4 a 1, mas na decisão o que se viu foi um empate por 2 a 2. Dessa vez, nada de jogo-extra. Sem hesitação, o recurso do 'cara ou coroa' ganhou espaço mais uma vez e garantiu a conquista argentina. 

3- EUROCOPA: ITÁLIA X UNIÃO SOVIÉTICA – 1968
Após ter sido vexatoriamente eliminada pela Coreia do Norte na Copa do Mundo de 1966, a Itália foi sede da Eurocopa de 1968. E pressão pelo título não faltava. Na semifinal daquela Euro, a Azzurra mediu forças com a União Soviética, em Nápoles. A partida acabou empatada por 0 a 0 e coube ao árbitro chamar os capitães de cada equipe para um ‘cara ou coroa’. O capitão italiano Giacinto Fachetti optou pelo lado da moeda que dava a vaga à final para sua seleção. Cinco dias depois, a Itália se sagraria campeã sobre a Iugoslávia, no Estádio Olímpico de Roma. 

Formação da Itália na final da Eurocopa de 1968. Em pé: Salvadore,
Dino Zoff, Riva, Rosato, Guarnieri e Facchetti. Agachados: Anastasi,
De Sisti, Domenghini, Mazzola e Burgnic. Time campeão graças a um
'cara ou coroa'!















4- OLIMPÍADAS: BULGÁRIA X ISRAEL – 1968
Até o torneio de futebol dos Jogos Olímpicos já se rendeu a bendita moedinha. O episódio aconteceu nas Olímpiadas da Cidade do México, em 1968. Em uma das quartas-de-final, Bulgária e Israel ficaram empatadas em 1 a 1, no estádio Nou Camp, em León. Novamente o ‘cara ou coroa’ entrou em ação, levando os búlgaros às semi-finais. E a Bulgária ainda ficaria com a medalha de prata.

5- COPA AMÉRICA: BRASIL X PARAGUAI – 1983
Uma das semifinais da Copa América de 1983 colocou Brasil e Paraguai frente a frente. Como não havia uma sede fixa, foram realizados dois jogos: o primeiro em Assunção e o segundo em Uberlândia. Teria vaga na final aquele se sobressaísse na soma dos resultados. Porém, o jogo de ida terminou 1 a 1 e o jogo de volta, 0 a 0.

Assim como nos três últimos casos descritos, uma moeda foi utilizada para indicar quem prosseguiria na competição. E foi a seleção brasileira a beneficiada do 'cara ou coroa' para jogar a decisão diante do Uruguai. Mas a sorte parou por aí. Depois de derrota em Montevideo e empate em Salvador, a seleção canarinha viu os uruguaios conquistarem sua décima-segunda taça continental.

O vídeo abaixo, do Baú do Esporte, menciona o caso. E mostra até uma entrevista de Giulite Coutinho, então presidente da CBF, repudiando o regulamento da CONMEBOL que permitia o 'cara ou coroa'. Na reportagem, Coutinho também clamava pela adoção do sistema de disputa por pênaltis, que havia começado a ganhar espaço em torneios importantes no fim da década de 1970.


Se não estiver conseguindo ver o vídeo, clique aqui

6- COPA DO MUNDO: IRLANDA X HOLANDA – 1990
Chegamos aos anos 90. Já faziam parte do passado todos estes critérios de desempate que beiravam a várzea, como tirar ‘cara ou coroa’ ou sortear papeizinhos. Prorrogações e disputas por pênaltis já se mostravam corriqueiras. Na Copa de 1990, na Itália, Irlanda e Holanda apareciam rigorosamente empatadas na tabela após o término da primeira fase.

Pela primeira vez na história, a FIFA teria de resolver um impasse desse tipo em meio a uma Copa do Mundo. De última hora, um sorteio foi organizado e deu “vitória” aos irlandeses. Sorte dos holandeses que mesmo assim conseguiram avançar à segunda fase, emboram tenha ficado em terceiro no grupo. 

Irlanda e Holanda: semelhantes no nome e idênticos na Copa de 1990.
Sorteio fez os irlandeses avançarem em segundo.







7- COPA MERCOSUL: CORINTHIANS X BOCA JUNIORS - 1999
Extinta, a Copa Mercosul de 1999 teve sua primeira fase composta por cinco grupos com quatro times. Além de todos os primeiros colocados, os quatro melhores segundos colocados também avançavam. Ou seja, apenas o pior segundo dentre todas as chaves ficaria de fora. E foi justamente aí que residiu o problema.

Após o fim da primeira fase, Corinthians e Boca Juniors mostravam campanhas inferiores aos demais vice-líderes, só que idênticas uma a outra. Um deles teria de ser eliminado. E a decisão ficaria por conta de um par ou ímpar. Calma, não é exatamente o que você está pensando!

Em sua sede no Paraguai, a CONMEBOL promoveu um sorteio um tanto quanto diferente. Foram colocadas dez bolinhas de madeira, numeradas de 1 a 10, dentro de um globo transparente. O Corinthians era representado pelos números pares e o Boca pelos ímpares. Para alegria dos alvinegros, deu a bolinha de número 4.

Só que na fase seguinte, no confronto entre Corinthians e San Lorenzo, a vitória foi dos argentinos sobre os brasileiros. Só que na competência, não na sorte!

VOCÊ LEMBRA OU JÁ OUVIU FALAR DE ALGUM OUTRO CASO PARECIDO COM ESTES?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

ATLÉTICO DE MADRID: AS SENSAÇÕES DE UM TORCEDOR ANTES DA CHEGADA DE SIMEONE
















O jornalista brasileiro Fernando Kallás é correspondente da BBC Brasil em Madrid e colunista do jornal esportivo espanhol AS. Morando há mais de cinco anos na capital espanhola, ele criou uma forte simpatia pelo Atlético de Madrid e hoje se considera um colchonero apaixonado.

Estou explicando isso pois me lembrei de um texto de Kallás, de maio de 2011, em que ele justificava sua paixão, lamentava a situação de seu Atleti e sonhava com dias melhores para o clube. 

À época, ele se mostrava frustrado tanto com a saída de Sergio Agüero quanto com a má administração do presidente Enrique Cerezo Torres. Era o fiel retrato de um torcedor lamentando a perda de um ídolo e a falta de perspectivas de seu time. 

Ler o desabafo de Kallás é entender o quão rápida e fenomenal foi a transformação do Atlético de Madrid em uma das maiores potência europeias de lá pra cá. Primeiramente leia o texto e depois vamos para algumas ponderações:

"Sou botafoguense, mas depois de mais de 6 anos de idas e vindas a Espanha, dois deles vivendo aqui em Madri, criei enorme carinho pelo Atlético de Madrid.

Além da torcida fiel e apaixonada e do clima família no estádio, coisa rara na Europa, outro motivo que me levou a criar tanto afeto pelo Atlético foi a chegada de um garoto argentino de 18 anos chamado Sérgio 'Kun' Agüero!

'Chegamos' praticamente juntos ao Vicente Calderón. Quando eu era 'apresentado' ao 'Atleti' ele foi comprado do Independiente de Avellaneda.

Na época meu sogro sempre me levava aos jogos do Real Madrid e tentava me converter em Merengue, mas alguma coisa não encaixava, não me sentia identificado, não me sentia em casa no Santiago Bernabéu! Era pompa demais, títulos demais, pose demais, alegria demais. Não tinha nada a ver com minha personalidade sofredora e apaixonada de botafoguense!

Daí quando quando fui apresentado àquele clube proletário do sul da capital, com um uniforme listrado e torcedores fanáticos, encontrei meu lugar!

E dentro de campo tinha Kun Agüero, aquele moleque de 18 anos que lembrava Romário pelas características físicas, arrancadas e faro de gol!

Hoje posso dizer com orgulho que vi na arquibancada sua estreia e, infelizmente, seu último jogo pelo Atlético de Madrid.

Hoje os jornais espanhóis estampam a notícia de que ele pediu formalmente para ser vendido por motivos "esportivos", ou seja, quer jogar num time com estrelas que estejam a sua altura.

Bate uma enorme tristeza, mas não o culpo por querer partir! Assim como, depois de ver da arquibancada o último jogo de
Fernando Torres como colchonero, não o culpei por querer voar mais alto.

O Atlético caiu numa mediocridade inaceitável nas mãos de dirigentes incompetentes e corruptos, que nada sabem de planejamento e futebol! Um jogador como Kun Agüero, que tem potencial para ser o melhor atacante do mundo (se já não o é), não pode estar fora da Champions League.
Um jogador como ele não pode ter Diego Costa (Diego QUEM?!) de companheiro de ataque. Ele merece jogar ao lado de craques como ele! 

Me dá muita pena ver o Atlético brigando por postos intermediários da tabela, quando deveria estar na cabeça, como sempre esteve, lutando de igual para igual com Real Madrid e Barcelona. Mas é um reflexo da incompetência e descaso da atual diretoria.

O título da Copa da UEFA no ano passado
nada teve a ver com a diretoria. Foi uma daquelas obras do acaso, onde o Espírito Santo encontra Ogum e Maomé numa encruzilhada e todas as energias do cosmo são direcionadas a um lugar aleatório e fazem com que tudo dê certo inexplicavelmente.

O "planejamento" do clube para a temporada com um medíocre Abel de treinador levou o time à zona de rebaixamento. Quando Quique 
(referindo-se ao técnico Quique Flores) chegou às pressas, no meio do campeonato, o time montado por essa direção patética estava aos cacos e, graças ao poder motivacional do treinador, os jogadores reagiram e conquistaram num momento de catarse uma improvável e inacreditável Copa da UEFA. 

E agora, um ano depois, o que a diretoria faz? Demite o treinador responsável pela conquista, vende um dos melhores atacantes do mundo e está prestes a vender um dos melhores e mais promissores goleiros da Europa (referindo-se a David De Gea, hoje no Manchester United).

É por essas e outras que torço de verdade para que Agüero tenha sorte e caia num time que o mereça! Num time que tenha força e cacife para disputar o título da Champions League. E por ser fã dele vivendo em na capital espanhola, me arrisco a dizer que gostaria que ele ficasse por aqui e formasse o melhor ataque do mundo ao lado de Cristiano Ronaldo.

E eu aqui do meu canto sonho, ingênuo que sou, que a diretoria gaste direito o dinheiro da venda trazendo outra jovem promessa como ele, que possa dar tantas alegrias aos torcedores colchoneros como o Kun nos trouxe nos últimos 5 anos!

Obrigado por tudo, Kun! Toda a sorte do mundo!"


*POR FERNANDO KALLÁS (O TEXTO FOI PUBLICADO NO DIA 24/05/2011 NO BLOG DO LEONARDO BERTOZZI, NO PORTAL DA ESPN BRASIL)

Na época em que foi escrito, o texto poderia soar extremamente trágico para os torcedores colchoneros. Mas lido nos dias de hoje, soa amplamente cômico.

Conforme negritei, Fernando Kallás queixava-se da mediocridade do Atlético, desdenhava de Diego Costa, tratava o título da Copa da UEFA 2009/10 como uma obra do acaso e previa dias difíceis. Nem no mais perfeito dos sonhos ele cogitava a hipótese de algum tipo de sucesso a curto prazo, embora desejasse muito.

Mal sabia ele que a ferida pela perda de Sergio Agüero seria rapidamente curada com a chegada de Diego Simeone.

O treinador argentino desembarcou no Vicente Calderón em dezembro de 2011, dois dias após a vexatória eliminação do Atlético para o Albacete, da terceira divisão espanhola, na Copa do Rei. E sete meses depois do desabafo de Kallás.  

A partir daí, Cholo Simeone tirou o Atlético do calvário e o levou para a prateleira mais alta do futebol europeu. Entre 2012 e 2014, foram cinco títulos e um vice-campeonato da Champions League. Tudo isso com muita astúcia e tendo em mãos um elenco curto, sem grandes estrelas.

À esquerda: escalação do Atlético no jogo de eliminação para o
Albacete (21/12/2011- último jogo do técnico Gregorio Manzano). 
À direita: escalação do Atlético no jogo de volta contra o Chelsea, 
que valeu vaga à final da Champions League 2013/14 (30/04/2014 - 
técnico Diego Simeone).
Conclusão: do inferno ao paraíso com apenas cinco mudanças no time




















"Cholo" Simeone é aquele técnico que mexe com os brios e faz os jogadores suarem sangue por ele.

Não são necessárias mais provas de que ele é genial tanto no aspecto motivacional quanto no tático. Não só transformou Miranda e Diego Godín em uma das maiores duplas defensivas do planeta como fez Diego Costa vingar e virar ídolo, queimando a língua até dos próprios torcedores.

A maior prova de que a magia do time de Simeone não foi obra do acaso é que ela persiste até hoje. Grande carrasco do Barcelona na temporada passada, o Atlético inverteu as coisas e fez seu arquirrival Real Madrid virar freguês. Depois da final da Champions, já se vão 6 clássicos sem que os merengues saiam vitorioso. No último, goleada rojiblanca por 4 x 0.

Dentro do atual esquema do treinador, os recém-chegados Antoine Griezmann, Mario Mandzukic e Guilherme Siqueira vão fazendo valer cada centavo investido e se mostrando capazes de manter o Atlético no topo. Sem falar que Simeone parece estar conseguindo aos poucos fazer com que Fernando Torres recupere seu excelente futebol de outrora. As saudades de Diego Costa, Filipe Luís e Cortouis vão rapidamente virando pó, se é que já não viraram. 

Se antes o Atlético se via à sombra de Barça e Real, hoje consegue lutar de igual para igual com todos os gigantes da Europa. E como consegue!

No ano passado, Simeone agradeceu às mães de seus jogadores por elas terem lhes dado "huevos grandes". Mas hoje é Fernando Kallás e todos os demais apaixonados pelo Atlético de Madrid que devem agradecer a Dona Nilda Simeone pelo mesmo motivo. 

Muitos podem torcer o nariz, mas os êxitos de Simeone e seus comandados são extraordinários. Dignos de uma estátua!


sábado, 7 de fevereiro de 2015

35 ANOS DE EDDIE, O PERVERSO MASCOTE DO IRON MAIDEN

















Neste domingo, 08 de fevereiro, fará exatos 35 anos do lançamento do primeiro single da história do Iron Maiden: “Running Free”. A data marca também o trigésimo-quinto aniversário da primeira aparição oficial de Eddie, o cadavérico mascote do Iron Maiden. 

Multifacetado, Eddie tem papel fundamental na construção do sucesso de uma das bandas mais influentes e extraordinárias do Heavy Metal. O macabro personagem está presente nas capas de todos os 15 álbuns de estúdio e de quase todos os 38 discos singles do Iron Maiden.

Em “Running Free”, ele aparece pela primeira vez. Mas propositalmente há um vulto cobrindo seu rosto, já que a banda não queria divulgar sua feição antes do lançamento do primeiro álbum, “Iron Maiden”.

Capa do disco do primeiro single do Iron Maiden: "Running
Free". Eddie (ao fundo e com a cabeça escura) aparece 
oficialmente pela primeira vez



















Foram dois meses de espera para que finalmente Eddie desse as caras por completo, em 14 de abril de 1980, quando "Iron Maiden" foi lançado.

"Iron Maiden": o primeiro álbum do Iron Maiden. E a 
segunda aparição de Eddie, dessa vez sem estar 
encoberto



















Além de abrigar “Running Free”, este álbum de estreia também hospeda outra canção que mais tarde seria lançada individualmente: “Sanctuary”. A capa deste segundo single, no entanto, geraria muito rebuliço e polêmica. E o motivo teria a ver com nosso amigo Eddie.

A controversa ilustração da capa o mostrava assassinando Margaret Thatcher, a então primeira-ministra do Reino Unido. O crime fictício acontecia depois que a Dama de Ferro rasgava um cartaz do Iron Maiden fixado em uma parede de um beco na Inglaterra. Fatal.

A capa de “Sanctuary” acabou sendo parcialmente censurada pelo governo para poder ser comercializada. Em quase todas as cópias originais, uma tarja preta foi colocada no rosto de Thatcher. Por isso, os discos cujas capas não têm esta tarja (imagem abaixo) são consideradas extremas raridades.

Capa do disco do single "Sanctuary": desenho rodeado de
 muita polêmica


















HISTÓRIA
Oficialmente, Eddie nasceu na capa de “Running Free”, lançado em 08 de fevereiro de 1980. Reitero: oficialmente. Isso porque o embrião de Eddie já se mostrava presente nos primeiros shows que o Iron Maiden fazia na década de 1970.

Um cenógrafo chamado Dave Beasley trabalhava com a banda e foi o responsável pela ideia inicial de criar uma enorme cabeça metálica que espirrava sangue artificial pelos orifícios. Com a aprovação dos integrantes, Beasley a posicionava nas laterais dos palcos nos quais o Iron Maiden se apresentava. De imediato, a química se mostrava perfeita. Eddie, ali, nascia para o mundo.

NOME E DESENHOS
Segundo o baixista Steve Harris, a inspiração do nome foi baseada no fato de que no sotaque inglês, a palavra “head”(cabeça) soava com "h" mudo. E para soar como “eddie”, não faltava muito. Daí pegou.
Já a versão do guitarrista Dave Murray dá conta de que o fator determinante para a adoção do nome foi uma piada que rolava na época:

“Eddie tinha nascido sem corpo, braços e pernas. Só tinha a cabeça. Mas tirando esse problema de nascimento, seus pais o amavam muito. No seu décimo-sexto aniversário, eles foram a um médico que lhes disse que poderiam dar um corpo ao garoto. Os pais ficaram malucos com a novidade, já que seu filho poderia finalmente ser uma pessoa normal. Eles voltaram para casa e falaram para Eddie: ‘Nós temos uma surpresa para você. É o melhor presente do mundo!’. Ao que Eddie respondeu: ‘Ah não, a porra de outro boné!’”

Bem, no fim, a criatura foi batizada como Edward T. Head. Mas vulgarizou-se Eddie mesmo. O Iron Maiden estava disposto a torná-lo um mascote que o acompanharia aonde quer que fosse. Mas ainda era necessário fazer com que Eddie ganhasse um corpo.

A banda conheceu o desenhista Derek Riggs, que ficou encarregado de recriar o personagem e personificá-lo. Ou melhor, “zumbificá-lo”. Segundo o próprio Riggs, seu desejo era fazer um desenho de uma figura em decomposição, semi-esquelética, andando pelas ruas de Londres.
Só que para isso ele precisava de algum material para servir como modelo, porque não sabia ao certo como uma cabeça humana se decompunha. Pesquisou muito e fez vários esboços. Mas ele admite que sua primeira e maior influência foi esta horripilante foto publicada pela revista Time no começo da década de 70:

Revista Time - foto da cabeça de um soldado americano
presa a um tanque de guerra durante a Guerra do Vietnã:
inspiração de Derek Riggs para a idealização de Eddie.



















Infelizmente, já faz um tempinho que Riggs deixou de desenhar para o Iron Maiden. Foram mais de 70 versões suas do mascote, uma mais sinistra que a outra, somadas a designs de fundo muito bem pensados. Fazendo um balanço, podemos dizer que seu trabalho foi genial. E que seus desenhos são inigualáveis. 

As capas dos dois últimos singles lançados pelo Iron Maiden (“El Dorado” e “Satellite 15... The Final Frontier”) foram desenhadas por Anthony Dry. E fazem alusão ao mundo dos quadrinhos, como podem ver abaixo.

Capa do disco do single "El Dorado",
pertencente ao álbum "The Final 
Frontier"
Capa do disco do single "Satellite 15...
The Final Frontier", também 
pertencente ao álbum
 "The Final Frontier".
Até hoje, por onde o Iron passa, um boneco gigante de Eddie sobe ao palco.
Na segunda vinda da banda ao Brasil, em 1992, o boneco trazido ficou preso na alfândega do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Mas depois de todas as explicações, ele foi devidamente liberado. Fico imaginando como explicaram do que se tratava aquela ‘coisa’.

O Iron Maiden tem uma grande adoração por monstros e pelo terror. Letras de músicas como "Fear Of The Dark" comprovam isso.

O sucesso de Eddie deve orgulhar muito a banda, que faz questão de colocá-lo em todos os cantos, até no rótulo de sua cerveja oficial: a 'Trooper' - nome de um dos singles de maior sucesso do Iron.
Primeiramente, apenas garrafas da cerveja eram produzidas, mas atualmente versões em latinhas da bebida também são comercializadas.

A cerveja oficial do Iron Maiden: a Trooper,
produzida pela cervejaria artesanal Robinsons:
 sabores de malte e um toque sutil de limão.



















Enfim, Eddie é a alma do marketing do Iron Maiden. É estampa de camisetas, bonés, agasalhos, capinhas de celular e pôsteres. Em 2015, a grande novidade no mercado é o lançamento de uma linha de skates com desenhos do diabólico personagem.

Primeiros exemplares de skates do  Iron Maiden 
produzidos. Skatistas metaleiros pelo mundo vão
 a delírio



















Eddie, inclusive, até já foi adotado por uma torcida organizada aqui no futebol brasileiro. A Força Jovem do Vasco tem como costume antigo estampar imagens de Eddie em suas faixas e bandeiras. E até um laço de afeto com o Iron Maiden foi criado.

Apaixonados por futebol, o baixista Steve Harris e o guitarrista Janick Gers chegaram a ser convidados para assistir à final da Copa João Havelange de 2001, entre Vasco e São Caetano, no Maracanã. Eles aceitaram e vieram mesmo. Essa foi apenas uma dentre inúmeras trocas de gentilezas que a banda e esta organizada cruz-maltina constantemente protagonizam uma com a outra.

Eddie estampado em bandeiras da Força Jovem do Vasco
















Eddie é um monstro mutante que reencarna a todo momento. Já se passou por múmia, esfinge, ceifador, soldado, samurai e alienígena. Já foi acorrentado, já teve a cabeça arrancada e, claro, já matou muita gente. Foram 35 anos vividos (ou "morridos") sob intensa obscuridade e perversidade.

Abaixo seguem as várias facetas de Eddie. Conheça ou relembre as capas de todos os 15 álbuns de estúdio do Iron Maiden:

"Iron Maiden"(1980): o primeiro álbum do Iron Maiden, como já 
mostrado no começo do post. Eddie aparece como um zumbi punk.
 "The Killers"(1981): o segundo álbum. Eddie segue sendo uma 
espécie de zumbi punk, só que com uma aspecto mais agressivo. 
Especulou-se até que ele estaria assassinando novamente Margaret
 Thatcher nesta capa.
"The Number of The Beast"(1982): o terceiro álbum, um dos 
mais geniais. Eddie deixa o visual punk, adota um cabelo 
mais ao estilo metal. Pela primeira vez ganha um 
companheiro, a Besta. 

"Piece of Mind"(1983): o quarto álbum. Eddie aparece careca, 
animalizado e acorrentado dentro de um caixote.
"Powerslave"(1984): o quinto álbum, também um dos mais 
geniais. Eddie aparece no centro como uma sensacional esfinge
egípcia.
"Somewhere In Time"(1986): o sexto álbum, cuja temática 
é a interação do homem com o tempo. Eddie surge com um estilo 
futurista e com um figurino de exterminador do futuro, embora  o
filme de mesmo nome tenha sido produzido depois deste
disco.

"Seventh Son Of A Seventh Son"(1988): o sétimo álbum. Eddie 
aparece como uma espécie de gênio da lâmpada, apenas com a 
metade de cima de seu corpo.
"No Praye for The Dying"(1990):oitavo álbum. Eddie
 retoma o cabelo selvagem. Com a aparência de um maníaco
 recém-fugido de um manicômio, ele aparece apavorando um 
homem.
"Fear of The Dark"(1992): o nono álbum, talvez o de mais 
sucesso no Brasil. Eddie aparece misturado entre os galhos 
de uma árvore sem folhas em uma noite sombria.

"The X-Factor"(1995): o décimo álbum, um dos que fizeram 
menos sucesso. O desenho de Eddie é fantástico, choca por 
parecer uma imagem real. A criatura parece estar sendo
torturada por um perverso aparato que lhe retira o cérebro.
 "Virtual XI"(1998): O décimo-primeiro álbum, o de menos
sucesso dentre todos os 15. A aparência de Eddie me faz
 lembrar a de vilões da Marvel
"Brave New World"(2000): o décimo- segundo álbum. 
Marcando a volta do vocalista Bruce Dickinson, é
um disco especial. O rosto de Eddie aparece entre
 as nuvens de um céu negro


"Dance Of Death"(2003): o décimo-terceiro álbum. Edddie 
se tranforma em um ceifador e está cercado de seres 
mascarados e misteriosos.
"A Matter of Life And Death"(2006): o décimo-quarto
álbum. Eddie aparece em cima de um tanque de guerra,
cercado de outras caveiras que também se passam por
soldados.
"The Final Frontier"(2010): o décimo-quinto e último
álbum. Pela primeira vez, Eddie não é desenhado 
por Derek Riggs. Coube a Anthony Dry transformá-lo
 em um sinistro alienígena, que aparece destruindo 
uma aeronave e assassinando astronautas.

E AÍ, QUAL SEU EDDIE PREFERIDO?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

ESTÁDIO CENTENARIO: UMA VIAGEM PELO FUTEBOL URUGUAIO













Sempre quando viajo para algum canto do planeta, desde o mais corriqueiro até o mais remoto lugar, tento arranjar programas relacionados à esportividade local. Creio que deva ser assim com todo bom apaixonado por esporte. No meu caso, é sagrado reservar algum momento para conhecer estádios de futebol. Tirar algumas fotos e explorar algum atrativo que ele eventualmente ofereça fazem parte do ritual. O maior prêmio é quando acabo dando sorte e assisto alguma partida.

Há alguns dias estive no Uruguai e logicamente não faltou vontade de colocar o esporte no roteiro. Mesmo sem estar hospedado em Montevideo, é imprescindível dar um jeito de conhecer a capital uruguaia. É nela que se encontram as melhores atrações futebolísticas, das quais destaco duas:

PALÁCIO CONTADOR GASTÓN GUELFI (PALÁCIO PEÑAROL):
Inaugurado em julho de 1955, o Palácio está localizado no bairro Cordón. A construção leva o nome de um ex-dirigente do Peñarol e é a sede administrativa deste time, que é o mais antigo e vitorioso do futebol uruguaio. Abriga reuniões, assembleias e eventos da diretoria e dos associados do clube, além de ser o núcleo da organização beneficente "Peñarol Solidario". Mas o que realmente interessa a turistas é o museu do clube aurinegro. Não tive o prazer de conhecê-lo, mas troféus, camisetas e imagens históricas não faltam. Também são vendidos produtos oficiais dos Carboneros.
O Palácio ainda hospeda o maior ginásio de basquete do Uruguai. Depois da demolição do Cilindro Municipal, em 2010, é nele que acontecem as principais partidas de "baloncesto" do país.















ESTÁDIO CENTENARIO:
Localizado no bairro Parque Batlle, o Estádio Centenario não é apenas uma opção de visita, é uma parada obrigatória. E também é a grande razão deste post. Levando este nome em comemoração ao 100º Aniversário da Primeira Constituição do Uruguai, o histórico estádio é um patrimônio cultural da humanidade. E não é para menos: foi palco da primeira final de Copa do Mundo - Uruguai 4 x 2 Argentina, em 30 de julho de 1930.
O Centenario foi construído com a intenção inicial de sediar todas as 18 partidas daquele Mundial, mas um atraso nas obras fez com que outros dois estádios fossem "convocados" de emergência para que os oito primeiros jogos pudessem acontecer. Desse modo, o Estádio Pocitos - que pertencia ao Peñarol e já foi demolido - acabou recebendo dois jogos, um deles sendo “apenas” a primeira peleja da história das Copas: França 4 x 1 México. Já o Estádio Parque Central - pertencente ao Nacional e existente até hoje - tratou de herdar outras seis partidas da primeira fase.
Retoques finais dados, o Centenario finalmente pôde estrear em 19 de julho de 1930, com Chile 1 x 0 França. 

Nascia ali um templo sagrado do futebol.

Pôster Oficial da Copa de 1930


















Boa parte do passado do místico futebol uruguaio está materializado e reunido no Museu do Futebol do Estádio Centenario, inaugurado em 1975. Mesmo bem mais acanhado e bem menos moderno que seu homônimo do Pacaembu, o museu é muito bacana e uma atração imperdível no interior do estádio. As relíquias variam entre troféus, fotos, uniformes e documentos. Quase tudo nos transportam a longínquas décadas. Até o senhor que trabalha na entrada do museu, o Seu Gerard, é uma relíquia, só que viva. 

Mas nem tudo é antiguidade. O museu também é um reflexo do orgulho que se tem da seleção uruguaia sob o comando do atual treinador Óscar Tabarez. Jogadores como Diego Forlán, Luis Suárez, Diego Lugano e Loco Abreu viraram ídolos eternos por resgatarem a essência, a alma e o respeito que o futebol uruguaio parecia ter perdido. A boa campanha na Copa da África do Sul 2010 e o título da Copa América 2011 coroaram o auge desta Celeste. E devolveram ao povo uruguaio o sabor do protagonismo.

Muitos livros, inclusive, foram escritos em homenagem a esta seleção recente bem-sucedida. “Vamos que Vamos”, por exemplo, é uma obra de sucesso da escritora uruguaia Ana Laura Lissardy. Ela traça o perfil dos jogadores convocados para a Copa de 2010 e dá um depoimento emocionante sobre o efeito deste Mundial na população uruguaia.

Assim como o livro, o museu não perde a oportunidade de fazer uma espécie de tributo a estes heróis do futebol uruguaio recente. Parafraseando o escritor uruguaio Hugo Viglietti: “a ese puñado de hombres que hicieron brillar el sol de Uruguay en Sudafrica”.

Separei abaixo os registros que julguei mais interessantes do Estádio Centenario e do museu: 

O ingresso dá direito de acesso às arquibancadas
do Centenario. Mesmo vazio, é de arrepiar













Centenario por fora: carcaça cheia de desenhos e uma pracinha
em seu entorno








Topo da arquibancada - Torre de los Homenajes, com o símbolo
uruguaio ao fundo: o sol.  Linda foto, não?



Tijolos à mostra: um charme deste estádio de 85 anos
Entrada do Museu do Futebol: abaixo das arquibancadas do
Centenario

Primeiro andar do museu: Forlán, Maracanazzo e Suárez
destacados no alto da parede




Outra reverência a Diego Forlán

Loco Abreu: muito amado pelo povo uruguaio, ele também tem
espaço no museu





Caricatura de Paul McCartney: o ex-Beatle
tocou no Centenario em 15 de abril de 2012
Parede imensa com foto histórica do Maracanazzo
Pelé: como ignorá-lo em um museu de futebol?
Camisa 5 usada por Obdulio Varela
no fatídico Maracanazzo



















Para quem ainda não teve o prazer de visitar o museu do estádio, trata-se de uma apaixonante viagem pela história. Recomendo!

85 anos depois da Copa de 1930, o Centenario é um dos poucos estádios no mundo que resistem firmemente à tentação do Padrão FIFA e às frescuras modernas tão presentes no futebol atualmente. Não sou dos mais ferrenhos opositores do futebol moderno, acho que cada um torce como bem quiser. Mas já não há mais dúvidas de que o futebol está ficando cada vez mais chato, mais politicamente correto e mais com cara de teatro.

O Centenario, entretanto, não parece nenhum pouco disposto a abrir suas portas para essa nova onda de comportamento. Nele, ainda pulsa uma forte atmosfera de paixão traduzida em festas de verdade. E estimulada por um futebol que é reconhecidamente jogado com muita raça como é o uruguaio. Os verdadeiros espetáculos à parte promovidos pelos hinchas uruguaios, especialmente em clássicos e grandes jogos, são um tapa na cara das arenas modernas e dos torcedores mais coxinhas.

Torcida do Peñarol recebendo seus jogadores no Centenario, no primeiro jogo da final da Libertadores 2011 contra o Santos

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