segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

ESTÁDIO CENTENARIO: UMA VIAGEM PELO FUTEBOL URUGUAIO













Sempre quando viajo para algum canto do planeta, desde o mais corriqueiro até o mais remoto lugar, tento arranjar programas relacionados à esportividade local. Creio que deva ser assim com todo bom apaixonado por esporte. No meu caso, é sagrado reservar algum momento para conhecer estádios de futebol. Tirar algumas fotos e explorar algum atrativo que ele eventualmente ofereça fazem parte do ritual. O maior prêmio é quando acabo dando sorte e assisto alguma partida.

Há alguns dias estive no Uruguai e logicamente não faltou vontade de colocar o esporte no roteiro. Mesmo sem estar hospedado em Montevideo, é imprescindível dar um jeito de conhecer a capital uruguaia. É nela que se encontram as melhores atrações futebolísticas, das quais destaco duas:

PALÁCIO CONTADOR GASTÓN GUELFI (PALÁCIO PEÑAROL):
Inaugurado em julho de 1955, o Palácio está localizado no bairro Cordón. A construção leva o nome de um ex-dirigente do Peñarol e é a sede administrativa deste time, que é o mais antigo e vitorioso do futebol uruguaio. Abriga reuniões, assembleias e eventos da diretoria e dos associados do clube, além de ser o núcleo da organização beneficente "Peñarol Solidario". Mas o que realmente interessa a turistas é o museu do clube aurinegro. Não tive o prazer de conhecê-lo, mas troféus, camisetas e imagens históricas não faltam. Também são vendidos produtos oficiais dos Carboneros.
O Palácio ainda hospeda o maior ginásio de basquete do Uruguai. Depois da demolição do Cilindro Municipal, em 2010, é nele que acontecem as principais partidas de "baloncesto" do país.















ESTÁDIO CENTENARIO:
Localizado no bairro Parque Batlle, o Estádio Centenario não é apenas uma opção de visita, é uma parada obrigatória. E também é a grande razão deste post. Levando este nome em comemoração ao 100º Aniversário da Primeira Constituição do Uruguai, o histórico estádio é um patrimônio cultural da humanidade. E não é para menos: foi palco da primeira final de Copa do Mundo - Uruguai 4 x 2 Argentina, em 30 de julho de 1930.
O Centenario foi construído com a intenção inicial de sediar todas as 18 partidas daquele Mundial, mas um atraso nas obras fez com que outros dois estádios fossem "convocados" de emergência para que os oito primeiros jogos pudessem acontecer. Desse modo, o Estádio Pocitos - que pertencia ao Peñarol e já foi demolido - acabou recebendo dois jogos, um deles sendo “apenas” a primeira peleja da história das Copas: França 4 x 1 México. Já o Estádio Parque Central - pertencente ao Nacional e existente até hoje - tratou de herdar outras seis partidas da primeira fase.
Retoques finais dados, o Centenario finalmente pôde estrear em 19 de julho de 1930, com Chile 1 x 0 França. 

Nascia ali um templo sagrado do futebol.

Pôster Oficial da Copa de 1930


















Boa parte do passado do místico futebol uruguaio está materializado e reunido no Museu do Futebol do Estádio Centenario, inaugurado em 1975. Mesmo bem mais acanhado e bem menos moderno que seu homônimo do Pacaembu, o museu é muito bacana e uma atração imperdível no interior do estádio. As relíquias variam entre troféus, fotos, uniformes e documentos. Quase tudo nos transportam a longínquas décadas. Até o senhor que trabalha na entrada do museu, o Seu Gerard, é uma relíquia, só que viva. 

Mas nem tudo é antiguidade. O museu também é um reflexo do orgulho que se tem da seleção uruguaia sob o comando do atual treinador Óscar Tabarez. Jogadores como Diego Forlán, Luis Suárez, Diego Lugano e Loco Abreu viraram ídolos eternos por resgatarem a essência, a alma e o respeito que o futebol uruguaio parecia ter perdido. A boa campanha na Copa da África do Sul 2010 e o título da Copa América 2011 coroaram o auge desta Celeste. E devolveram ao povo uruguaio o sabor do protagonismo.

Muitos livros, inclusive, foram escritos em homenagem a esta seleção recente bem-sucedida. “Vamos que Vamos”, por exemplo, é uma obra de sucesso da escritora uruguaia Ana Laura Lissardy. Ela traça o perfil dos jogadores convocados para a Copa de 2010 e dá um depoimento emocionante sobre o efeito deste Mundial na população uruguaia.

Assim como o livro, o museu não perde a oportunidade de fazer uma espécie de tributo a estes heróis do futebol uruguaio recente. Parafraseando o escritor uruguaio Hugo Viglietti: “a ese puñado de hombres que hicieron brillar el sol de Uruguay en Sudafrica”.

Separei abaixo os registros que julguei mais interessantes do Estádio Centenario e do museu: 

O ingresso dá direito de acesso às arquibancadas
do Centenario. Mesmo vazio, é de arrepiar













Centenario por fora: carcaça cheia de desenhos e uma pracinha
em seu entorno








Topo da arquibancada - Torre de los Homenajes, com o símbolo
uruguaio ao fundo: o sol.  Linda foto, não?



Tijolos à mostra: um charme deste estádio de 85 anos
Entrada do Museu do Futebol: abaixo das arquibancadas do
Centenario

Primeiro andar do museu: Forlán, Maracanazzo e Suárez
destacados no alto da parede




Outra reverência a Diego Forlán

Loco Abreu: muito amado pelo povo uruguaio, ele também tem
espaço no museu





Caricatura de Paul McCartney: o ex-Beatle
tocou no Centenario em 15 de abril de 2012
Parede imensa com foto histórica do Maracanazzo
Pelé: como ignorá-lo em um museu de futebol?
Camisa 5 usada por Obdulio Varela
no fatídico Maracanazzo



















Para quem ainda não teve o prazer de visitar o museu do estádio, trata-se de uma apaixonante viagem pela história. Recomendo!

85 anos depois da Copa de 1930, o Centenario é um dos poucos estádios no mundo que resistem firmemente à tentação do Padrão FIFA e às frescuras modernas tão presentes no futebol atualmente. Não sou dos mais ferrenhos opositores do futebol moderno, acho que cada um torce como bem quiser. Mas já não há mais dúvidas de que o futebol está ficando cada vez mais chato, mais politicamente correto e mais com cara de teatro.

O Centenario, entretanto, não parece nenhum pouco disposto a abrir suas portas para essa nova onda de comportamento. Nele, ainda pulsa uma forte atmosfera de paixão traduzida em festas de verdade. E estimulada por um futebol que é reconhecidamente jogado com muita raça como é o uruguaio. Os verdadeiros espetáculos à parte promovidos pelos hinchas uruguaios, especialmente em clássicos e grandes jogos, são um tapa na cara das arenas modernas e dos torcedores mais coxinhas.

Torcida do Peñarol recebendo seus jogadores no Centenario, no primeiro jogo da final da Libertadores 2011 contra o Santos

Se não estiver conseguindo ver o vídeo, clique aqui.

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