
O maior destaque da Copa Africana de Nações 2015, encerrada no domingo passado, foi, claro, o título da Costa do Marfim - campeã continental pela segunda vez na história. No entanto, fora das quatro linhas, o principal destaque fica por conta de um exótico sorteio que se fez necessário após o término da primeira fase da competição:
Pela última rodada do Grupo D, Guiné e Mali faziam um confronto direto valendo passagem às
quartas-de-final. Como as duas seleções chegavam ao duelo com campanhas idênticas,
qualquer empate faria com que persistisse a igualdade absoluta
na tabela. Dito e feito. Ao final do jogo, o placar apontava 1 a 1. O Grupo D
ficava assim:
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Guiné e Mali idênticas em pontos, vitórias, empates, derrotas, gols marcados, gols sofridos, saldo de gols e no confronto direto |
Obs: Na última rodada, a Costa do Marfim venceu Camarões por 1 a 0. Repare que se este jogo também tivesse terminado empatado por 1 a 1, teria havido um absoluto quádruplo empate entre todos os times grupo. Foi quase!
Por bom-senso, Guiné e Mali poderiam muito bem ter ficado em campo para uma prorrogação ou uma disputa por pênaltis. No entanto, o regulamento foi seguido à risca. No dia seguinte, a Confederação Africana de Futebol teve de providenciar um sorteio para a definição de quem seria o adversário de Gana no mata-mata. Duas bolinhas, 50% de chance para cada uma. E o destino quis que a bolinha de Guiné fosse a sorteada.
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29/01/2015: bolinhas prestes a serem sorteadas pelos engravatados da CAF. A sorte sorriu para Guiné, que depois acabaria eliminada por Gana nas quartas |
Como o futebol é feito de histórias, separei outros 7 casos em que houve sorteios semelhantes a este que envolveu Guiné e Mali.
O curioso é que nem sempre retirar bolinhas de um pote foi a solução encontrada. Você vai ver que papeizinhos, jogos-extra e até moedas já foram recursos usados como critério de desempate. Sim, até o famoso ‘cara ou coroa’ - que normalmente decide o direito de opção por campo ou bola - já definiu o rumo de alguns campeonatos. E não eram quaisquer campeonatos, não!
1-ELIMINATÓRIAS DA COPA DO MUNDO DA SUÍÇA: TURQUIA X ESPANHA - 1954
Turquia e Espanha brigavam por
uma vaga na Copa do Mundo de 1954 e fizeram duas partidas para a definição, ida
e volta. Em solo espanhol, vitória dos donos da casa por 4 a 1. Em território
turco, 1 a 0 para a Turquia.
Em tese, a Espanha deveria ter ido à Copa, mas naquela época não se usava a diferença de gols como critério de desempate. Por isso, houve a necessidade de um jogo-extra, na Itália, no Estádio Olímpico de Roma (campo neutro). O problema é que esta partida terminou empatada por 2 a 2.
Em tese, a Espanha deveria ter ido à Copa, mas naquela época não se usava a diferença de gols como critério de desempate. Por isso, houve a necessidade de um jogo-extra, na Itália, no Estádio Olímpico de Roma (campo neutro). O problema é que esta partida terminou empatada por 2 a 2.
Como ainda não existia prorrogação
ou disputa por pênaltis, mostrava-se necessária a realização de uma quarta
partida-desempate. Faltavam três meses para Mundial e ainda havia tempo para
isso. Porém, os turcos se recusaram e se apoiaram em uma brecha do regulamento da UEFA, que decretava
a realização de um sorteio.
A peculiaridade da história vem agora. O sorteio aconteceu pouquíssimo tempo depois do encerramento da partida e de forma improvisada. Tanto é que coube a um garoto de 14 anos chamado Luigi Franco Gemma, filho de um homem que trabalhava no estádio. Isso mesmo! Vendaram os olhos do pequeno italiano e pediram para que ele retirasse um papelzinho de um pote. E ele tirou aquele em que o nome da Turquia aparecia escrito.
Pois é, e assim foi definido quem iria à Suíça para a disputa daquela Copa. A Espanha despreza Luigi até hoje!
A peculiaridade da história vem agora. O sorteio aconteceu pouquíssimo tempo depois do encerramento da partida e de forma improvisada. Tanto é que coube a um garoto de 14 anos chamado Luigi Franco Gemma, filho de um homem que trabalhava no estádio. Isso mesmo! Vendaram os olhos do pequeno italiano e pediram para que ele retirasse um papelzinho de um pote. E ele tirou aquele em que o nome da Turquia aparecia escrito.
Pois é, e assim foi definido quem iria à Suíça para a disputa daquela Copa. A Espanha despreza Luigi até hoje!
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Luigi Franco Gemma: de olhos vendados e cercado por cartolas europeus. Das mãos do garoto saiu a vaga da Turquia na Copa do Mundo de 1954, na Suíça |
2- SULAMERICANO SUB-19: ARGENTINA X COLÔMBIA / PARAGUAI - 1967
O Campeonato Sulamericano Sub-19 de 1967 foi um dos torneios mais excêntricos da história do futebol. Realizado no Paraguai, a Argentina se sagrou campeã, mas os maiores méritos podem ser creditados à sorte. Na primeira fase, a seleção argentina terminou empatada com a Colômbia na segunda colocação do grupo A. Nenhum critério de desempate desempatava a situação.
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Igualdade entre Argentina e Colômbia resolvida por uma moeda |
Para a definição de quem seria o classificado, foi necessária a realização de uma partida-extra, a qual acabaria empatada: 2 a 2. A CONMEBOL, então, autorizou que uma moeda decidisse de uma vez por todas quem seguiria à próxima fase. Exatamente! Foi o famoso 'cara ou coroa' quem definiu que os argentinos prosseguiriam na competição.
E a sorte dos Hermanos estava longe de parar por aí. Na grande final, em Assunção, Paraguai e Argentina se reencontravam no torneio. Na primeira fase, os donos da casa haviam goleado por 4 a 1, mas na decisão o que se viu foi um empate por 2 a 2. Dessa vez, nada de jogo-extra. Sem hesitação, o recurso do 'cara ou coroa' ganhou espaço mais uma vez e garantiu a conquista argentina.
3- EUROCOPA: ITÁLIA X UNIÃO SOVIÉTICA – 1968
Após ter sido vexatoriamente eliminada
pela Coreia do Norte na Copa do Mundo de 1966, a Itália foi sede da Eurocopa de
1968. E pressão pelo título não faltava. Na semifinal daquela Euro, a Azzurra
mediu forças com a União Soviética, em Nápoles. A partida acabou empatada por 0
a 0 e coube ao árbitro chamar os
capitães de cada equipe para um ‘cara ou coroa’. O capitão italiano Giacinto
Fachetti optou pelo lado da moeda que dava a vaga à final para sua seleção. Cinco
dias depois, a Itália se sagraria campeã sobre a Iugoslávia, no Estádio
Olímpico de Roma.
4- OLIMPÍADAS: BULGÁRIA X ISRAEL – 1968
Até o torneio de futebol dos
Jogos Olímpicos já se rendeu a bendita moedinha. O episódio aconteceu nas Olímpiadas
da Cidade do México, em 1968. Em uma das quartas-de-final, Bulgária e Israel
ficaram empatadas em 1 a 1, no estádio Nou Camp, em León. Novamente o
‘cara ou coroa’ entrou em ação, levando os búlgaros às semi-finais. E a
Bulgária ainda ficaria com a medalha de prata.
5- COPA AMÉRICA: BRASIL X PARAGUAI – 1983
Uma das semifinais da Copa
América de 1983 colocou Brasil e Paraguai frente a frente. Como não havia uma
sede fixa, foram realizados dois jogos: o primeiro em Assunção e o segundo em
Uberlândia. Teria vaga na final aquele se sobressaísse na soma dos resultados.
Porém, o jogo de ida terminou 1 a 1 e o jogo de volta, 0 a 0.
Assim como nos três últimos casos descritos, uma moeda foi utilizada para indicar quem prosseguiria na competição. E foi a seleção brasileira a beneficiada do 'cara ou coroa' para jogar a decisão diante do Uruguai. Mas a sorte parou por aí. Depois de derrota em Montevideo e empate em Salvador, a seleção canarinha viu os uruguaios conquistarem sua décima-segunda taça continental.
Assim como nos três últimos casos descritos, uma moeda foi utilizada para indicar quem prosseguiria na competição. E foi a seleção brasileira a beneficiada do 'cara ou coroa' para jogar a decisão diante do Uruguai. Mas a sorte parou por aí. Depois de derrota em Montevideo e empate em Salvador, a seleção canarinha viu os uruguaios conquistarem sua décima-segunda taça continental.
O vídeo abaixo, do Baú do Esporte, menciona o caso. E mostra até uma entrevista de Giulite Coutinho, então presidente da CBF, repudiando o regulamento da CONMEBOL que permitia o 'cara ou coroa'. Na reportagem, Coutinho também clamava pela adoção do sistema de disputa por pênaltis, que havia começado a ganhar espaço em torneios importantes no fim da década de 1970.
Chegamos aos anos 90. Já
faziam parte do passado todos estes critérios de desempate que
beiravam a várzea, como tirar ‘cara ou coroa’ ou sortear papeizinhos. Prorrogações
e disputas por pênaltis já se mostravam corriqueiras. Na
Copa de 1990, na Itália, Irlanda e Holanda apareciam rigorosamente empatadas na
tabela após o término da primeira fase.
Pela primeira vez na história, a FIFA teria de resolver um impasse desse tipo em meio a uma Copa do Mundo. De última hora, um
sorteio foi organizado e deu “vitória” aos irlandeses. Sorte dos holandeses que mesmo assim conseguiram avançar à segunda fase, emboram tenha ficado em terceiro no grupo.
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Irlanda e Holanda: semelhantes no nome e idênticos na Copa de 1990. Sorteio fez os irlandeses avançarem em segundo. |
7- COPA MERCOSUL: CORINTHIANS X BOCA JUNIORS - 1999
Extinta, a Copa Mercosul de 1999 teve sua primeira fase
composta por cinco grupos com quatro times. Além de todos os primeiros colocados,
os quatro melhores segundos colocados também avançavam. Ou seja, apenas o pior segundo
dentre todas as chaves ficaria de fora. E foi justamente aí que residiu o problema.
Após o fim da primeira fase, Corinthians e Boca Juniors mostravam campanhas inferiores aos demais vice-líderes, só que idênticas uma a outra. Um deles teria de ser eliminado. E a decisão ficaria por conta de um par ou ímpar. Calma, não é exatamente o que você está pensando!
Em sua sede no Paraguai, a CONMEBOL promoveu um sorteio um tanto quanto diferente. Foram colocadas dez bolinhas de madeira, numeradas de 1 a 10, dentro de um globo transparente. O Corinthians era representado pelos números pares e o Boca pelos ímpares. Para alegria dos alvinegros, deu a bolinha de número 4.
Só que na fase seguinte, no confronto entre Corinthians e San Lorenzo, a vitória foi dos argentinos sobre os brasileiros. Só que na competência, não na sorte!
VOCÊ LEMBRA OU JÁ OUVIU FALAR DE ALGUM OUTRO CASO PARECIDO COM ESTES?
Após o fim da primeira fase, Corinthians e Boca Juniors mostravam campanhas inferiores aos demais vice-líderes, só que idênticas uma a outra. Um deles teria de ser eliminado. E a decisão ficaria por conta de um par ou ímpar. Calma, não é exatamente o que você está pensando!
Em sua sede no Paraguai, a CONMEBOL promoveu um sorteio um tanto quanto diferente. Foram colocadas dez bolinhas de madeira, numeradas de 1 a 10, dentro de um globo transparente. O Corinthians era representado pelos números pares e o Boca pelos ímpares. Para alegria dos alvinegros, deu a bolinha de número 4.
Só que na fase seguinte, no confronto entre Corinthians e San Lorenzo, a vitória foi dos argentinos sobre os brasileiros. Só que na competência, não na sorte!
VOCÊ LEMBRA OU JÁ OUVIU FALAR DE ALGUM OUTRO CASO PARECIDO COM ESTES?
Muito legal esse post, Gustavo! Sempre quis saber de outros casos, só lembrava desse caso da Copa América em 83.
ResponderExcluirabs,
Kleber